Sunday, May 22, 2011

''EU TE AMO MEU BRASIL''

No outro dia eu estava ouvindo Ivan Lins cantando a musica “O amor e o meu país” e isso me trouxe algumas lembranças de infância...
E foi rodeado desta e tantas outras canções que eu cresci.
E mais tarde larguei meu país ... e adotei e/ou fui adotado por outro ... mas nunca esqueci minhas origens. Deixei-o quase duas décadas depois do auge da Ditadura Militar... e por razões não políticas.

Mas sou da geração "Brasil Ame-o ou Deixe-o" .



Era então a década de 1960 e a Ditadura Militar reinava soberana e o país passava por um dos momentos mais turbulentos de sua historia. Éramos apresentados a "Parada de 7 de Setembro" como a celebração máxima de cidadania,enquanto na verdade milhares de verdadeiros e legítimos cidadãos eram perseguidos, torturados e mortos por esta mesma Ditadura.

"Eu te amo, eu te amo meu Brasil" dizia o refrão de uma canção encomendada pelo Governo como um "quase hino" da juventude da época. Eu e meus irmãos chegamos até mesmo a ganhar na época (no supermercado) discos com essa canção. Era uma verdadeira lavagem cerebral.

Mas eu pertencia a numa família atípica e meu pai era um homem politizado que era ideologicamente contrário ao regime vigente.

Em nossa casa lia-se "O Pasquim" assiduamente (muitas vezes antes mesmo de ele ser recolhido das bancas por motivos de censura) ...


 Ouvíamos discos que vinham com faixas censuradas que eram inutilizadas manualmente por ranhuras para que não pudessem ser ouvidas.

Mas eu cresci sabendo o que realmente significava "Pra não dizer que não falei das flores" cantada por Geraldo Vandré    ...



Ou o que na verdade queriam dizer/diziam as canções de Caetano e Chico Buarque ...

O mesmo Chico que nos deu "Cálice"...



E eu sabia que ele na verdade queria dizer "Cale-se"...e tão brilhantemente o fez ... driblando as regras e conseguindo lança-la com apenas pequenas modificações feitas na letra.Modificações essas exigidas por aquela ridícula censura de então.

Vivi depois a transição política do pais ... mas deixei minha Pátria antes de ter a chance de ver as Eleições Diretas acontecerem pela primeira vez.

Mas me orgulho de ser brasileiro – apesar dos pesares – e lamento apenas termos como parte de nossa historia essa "mancha"...

Lamento termos de conviver com os relatos de todas as atrocidades ocorridas com nossos irmãos que se rebelavam contra o regime enquanto uma parte involuntariamente alienada da população bradava suas bandeiras e cantava os "hinos da ditadura".


Para alguns - naquela época – ídolos eram Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici ... enquanto para mim, ídolos eram Chico, Caetano, Ziraldo, Henfil, Millor Fernandes, Zuzu Angel...

Agradeço meu pai por - mesmo sem nunca ter imposto ou mesmo sugerido - ter me politizado tanto. Por ter me ensinado a ver além daqueles artifícios da propaganda política impostos pelo Regime Militar.

Hoje os tempos são outros ... e vivemos uma época de solidificacão de uma verdadeira Democracia ...

Hoje posso dizer: "Eu te amo meu Brasil" ... mas de uma forma diferente ... e por razões diferentes ... !



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